sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Da moral do Karatê – Parte I

Aconteceu nesta sexta mais um exame de graduação da ASKARI – Associação de Karatê de Guarapari – à qual pertenço desde 99 quando iniciei a prática desta luta. Talvez eu tenha ficado tão ou mais tenso que meus alunos, afinal, é o meu trabalho que está ali, sendo avaliado, mesmo que não dependa apenas de mim, mas também da compreensão e do desempenho de meus alunos. Penso que seja o momento oportuno para refletir sobre a parte moral que norteia a prática dessa luta estruturada como conhecemos no final do século XIX.

Antes mesmo de começar o exame, o Sensei Adilson dos Passos pediu que todos se virassem para uma placa afixada onde se lê o Dojo Kun, ao qual chamamos de “Lemas do Karatê”, embora sua tradução literal seja “regras da academia”. Está escrito:

“Esforço para a formação do caráter”.
“Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão”.
“Criar o intuito de esforço”.
“Respeito acima de tudo”.
“Conter o espírito de agressão”.


Os Lemas do Karatê foram escritos por Sensei Masatoshi Nakayama para resumir os Vinte Princípios Fundamentais deixados por Sensei Gichin Funakoshi, um tanto quando difíceis de serem todos decorados e mais ainda de serem compreendidos totalmente. Assim, Nakayama Sensei em muito nos facilitou o aprendizado desses conceitos morais, aos quais posteriormente, a sede de conhecimento nos leva a estudar e buscar compreender mais a fundo os Vinte Princípios Fundamentais sobre os quais falarei oportunamente.

Quando mencionamos o “esforço para a formação do caráter”, devemos ter em mente o auto-aperfeiçoamento, o intuito consciente de buscar se melhorar enquanto pessoa e enquanto cidadão.

A “fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão” nos remete à idéia de retidão, de escolher o correto em vez do errado, segundo nossa compreensão das coisas. Digo que essa escolha é segundo nossa compreensão, pois cada um vê o universo das coisas pelo que é, ou seja, vemos as situações, as coisas e as pessoas segundo nosso nível de consciência. Quem erra sabendo, merece punição mais severa do que aquele que erra por ignorância.

“Criar o intuito de esforço” é um convite à disciplina. Fazer o que deve ser feito quando deve ser feito e como deve ser feito. Um antigo escrito tibetano diz que devemos realizar as coisas no seu devido tempo, não deixando para a tarde aquilo que podemos (e devemos) executar pela manhã.

“Respeito acima de tudo” nem deveria ser comentado, pois o respeito por tudo e por todos deveria ser a regra inviolável em todo tempo e lugar. Respeito nada mais é do que ter a consciência de que todos são dignos de nossa consideração e de que nosso direito termina quando interfere no direito do próximo. O Mestre Yeoschua Ben Yossef (ele mesmo, Jesus, o Cristo) sintetizou bem esse conceito quando nos recomendou amar ao próximo como a nós mesmos.

Parece estranho, no âmbito de uma luta herdeira das artes marciais (ainda conceituarei as artes marciais num post) que se recomende “conter o espírito de agressão”. Estranho, mas não contraditório se levarmos em consideração o período em que esses lemas foram escritos: fim do século XIX, as lutas corporais perdem seu valor como instrumental bélico, ganhando status de práticas de auto-aperfeiçoamento, de iluminação; assim, ao adicionar o sufixo DO ao nome KARATE, Mestre Funakoshi estabelece que a prática deveria levar a pessoa a ser “vazia” (Kara) de más intenções, de agressões, e que deveria agir como um espelho que simplesmente reflete o que se lhe apresenta, ou um vale que conduz a longas distâncias os menores sons nele produzidos. Se é fato que a agressão gratuita é uma atitude espúria, o direito à auto defesa é legítima, entretanto, citando um dos Vinte Princípios Fundamentais, “antes de se usar a técnica da arte, busque usar a técnica da alma”, ou seja, a inteligência, procurando evitar os atritos sempre que possível.

Para encerrar este post, quero parabenizar aos meus alunos David Henrique Barbosa de Mendonça, Giovanni Gomes Guerreiro, Guilherme Pereira Duarte e Guilherme Reis Mendes por terem alcançado a faixa amarela; Gabriel Magalhães Miranda e Wellington José Vicente Mezzabarba por terem alcançado a faixa vermelha; Fernanda Henriques Martins e João Victor Dornellas Cypriano por terem alcançado a faixa laranja. Vocês fizeram jus à confiança que depositei em vocês. OSS!

2 comentários:

  1. Sempre pensei em praticar alguma arte marcial - talvez por ver tantos filmes do Bruce Lee. Mas sou tão sedentário, que o único esporte que pratico é xadrez.

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  2. Belissíma arte, me deu saudades ontem vendo aquele exame... Talvez eu volte a te encher lá na academia tio Wall!

    Abraços,
    Marquezi Medeiros

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